No decorrer dos processos históricos de desenvolvimento do homem e de suas comunidades as festas configuram-se como forma de marcar momentos iniciáticos da formação psíquica e social das comunidades, marcam a relação do homem com os ciclos da natureza, do tempo e das dinâmicas que cooperam para perpetuar sua subsistência e sobrevivência. São portadoras de diferentes saberes das comunidades, de sua memória coletiva e dos conhecimentos transmitidos pela oralidade e se configuram em um valioso patrimônio imaterial e material. Deste modo, no desenrolar da história brasileira, a coabitação e convivência de diferentes culturas nos espaços das pequenas comunidades que nasciam, as festas, também incorporaram múltiplos elementos, fazendo surgir novos significados e simbolismos para atender às necessidades que se impunham no transcorrer de nossa formação cultural, mantendo em suas ações ritualísticas, elementos originários de cada uma dessas culturas. Nesta perspectiva, transformaram-se na síntese do sentimento de brasilidade, expresso na música, danças, dramatizações, nos sabores dos pratos servidos, nas vestimentas, adornos e na decoração dos espaços ocupados, na estruturação do sentimento de ações coletivas vinculadas à religiosidade, ao profano, ao civismo, ao lúdico e ao reflexivo. Nos primórdios da colonização do país, a forte presença Jesuíta fez com que cada núcleo habitacional fosse precedido da construção de uma capela ou igreja que passaram a ser centros aglutinadores da vida social da Colônia. Nesse sentido, as festas religiosas do período da colonização difundidas pelos jesuítas eram constituídas de múltiplos elementos como a dança, a dramatização, os cantos, as folias. Portanto, compreender as festas inseridas em uma realidade concreta é compreender valores éticos, estéticos e culturais visando à manutenção das culturas regionais, os saberes locais, as tradições. Existe um abismo no país entre a cultura letrada da academia e as culturas do povo. Esse abismo cria uma persistência nas formas de pensar a cultura que perpetua uma dicotomia e um antagonismo, nesse sentido, é necessário conhecer nas comunidades as principais manifestações culturais: festivais, festas, apresentações de teatro, música, dança, exposições de artes visuais, assim como os artistas que nela residem. São essas manifestações, que na atualidade, travestidas de elementos modernizadores, sustentam a identidade cultural do país. Esse processo é também um processo de circularidade de bens culturais e, não raro, manifestações das culturas hegemônicas penetram as culturas subalternas, assim como o inverso também acontece gerando uma dinâmica de coexistência de diferentes culturas num mesmo espaço/tempo, esse é um fenômeno que caracteriza a contemporaneidade.